sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O conceito de superdotação

O conceito de superdotação tem sido ampliado e passou a denominar habilidades de diversos domínios. No Brasil, nas diretrizes básicas estabelecidas pela Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação e Desporto, é adotada a seguinte definição:
São consideradas crianças portadoras de alta habilidade as que apresentam notável desempenho em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados: capacidade intelectual; aptidão acadêmica ou específica; pensamento criador ou produtivo; capacidade de liderança; talento especial para artes visuais, artes dramáticas e música; capacidade psicomotora.
Esta definição engloba uma grande variedade de áreas nas quais o talento ou superdotação pode se desenvolver.
Por exemplo, o talento especial para artes envolve alto desempenho em artes plásticas, musicais, dramáticas, cênicas e literárias. A capacidade psicomotora, por sua vez, refere-se ao desempenho superior em atividades físicas e esportes. Entretanto, as características que contribuem para um desempenho superior em uma área não são iguais àquelas que contribuem para um desempenho notável em outra.
Destaca-se também a contribuição de Renzulli ao estudo da superdotação. Este pesquisador menciona que deve haver uma mudança no enfoque das definições de superdotação de ser ou não superdotado para desenvolver comportamentos superdotados, e também afirma que tais comportamentos “estão presentes em algumas pessoas, em determinados momentos e sob determinadas circunstâncias”. Este autor elaborou o
Modelo dos Três Anéis, no qual a realização superior de algum indivíduo em uma área de conhecimento ocorre em decorrência de um conjunto de três dimensões em interação: habilidade acima da média (não necessariamente superior), criatividade e envolvimento com a tarefa. A habilidade acima da média pode ser definida em termos de habilidade geral e habilidades específicas. O autor afirma que a “habilidade geral consiste na capacidade de processar informação, integrar experiências que resultam em respostas apropriadas e adaptativas a novas situações, e na capacidade de se engajar em pensamento abstrato”. A habilidade específica, por sua vez, “consiste na capacidade de adquirir conhecimento, habilidades, ou à habilidade de desempenho em uma ou umas atividades de um tipo especializado e dentro de uma variação restrita”. O envolvimento com a tarefa se refere à energia investida pelo indivíduo em uma tarefa específica ou em uma determinada área. Por fim, a criatividade consiste em: características do pensamento, como fluência, flexibilidade e originalidade, abertura a novas experiências e receptividade ao que constitui novidade no âmbito de pensamentos, ações, produtos próprios e de outras pessoas; sensibilidade, curiosidade e ousadia; e características da produção dos indivíduos superdotados, como inovação, riqueza de detalhes e abundância.
Na proposta mencionada, as três dimensões (habilidade acima da média, envolvimento com a tarefa e criatividade) devem ser consideradas como fruto da interação entre fatores ambientais e de personalidade. Ademais, nesta perspectiva, a superdotação não é um fenômeno visto como estático e fixo. Ao contrário, ela pode ser desenvolvida em certas pessoas, em determinados momentos e sob certas circunstâncias.
O fenômeno da superdotação apresenta uma grande complexidade, englobando sistemas biológicos, psicológicos, intelectuais, emocionais, sociais, históricos e culturais. Nesta direção, Csikszentmihalyi, Rathunde e Whalen também ressaltam a diversidade de fatores que podem influenciar o desenvolvimento de comportamentos de superdotação.
Estes pesquisadores sugerem que o desempenho superior apresentado por muitos jovens não se desenvolve da forma esperada até a idade adulta. Por outro lado, ressaltam ainda que alguns adultos proeminentes em suas respectivas áreas de interesse não apresentavam um desempenho expressivo quando mais jovens. Isto nos leva a concluir que múltiplos aspectos interferem no processo de desenvolvimento do potencial superior. Neste sentido, Winner destaca o papel do ambiente ao afirmar que “a superdotação não pode ser inteiramente um produto do nascimento: apoio familiar, educação e trabalho árduo podem determinar se um potencial se desenvolve ou não”
Conforme mencionado, o ambiente familiar pode contribuir para o processo de desenvolvimento do talento.
Segundo Dessen, a família constitui um contexto primário de desenvolvimento, mediando o processo de interação dos indivíduos com o contexto ambiental. Ela é responsável pela maior parte do processo de socialização. Os autores definem socialização como um processo contínuo, que acontece ao longo do curso de vida de um indivíduo, no qual este desenvolve sua identidade, autoconceito, comportamentos, atitudes e disposições. As interações sociais são essenciais para que este processo ocorra.
Apesar de aspectos relacionados à família influenciarem o desenvolvimento de comportamentos de superdotação ou talento, Chagas cita estudos cujos autores afirmam que ainda não há consenso suficiente para delimitar a extensão e magnitude do impacto destes aspectos sobre tal processo. Desta forma, destaca-se a importância da realização de outros estudos relacionados a esta temática, possibilitando uma compreensão mais precisa sobre o papel desempenhado pela família.

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